
Artigo de dom Amilton Manoel da Silva, CP
A Igreja sempre foi a casa de todos e de modo particular a “casa dos jovens”. Pensar a Igreja sem esta faixa etária é ignorar o seu presente, onde a garra e a alegria são elementos essenciais para o serviço e, ao mesmo tempo, esquecer o seu futuro, no qual as vozes juvenis, suas energias e esperanças, deverão contribuir de forma efetiva, para um amanhã mais justo, solidário e fraterno.
Na Sagrada Escritura os jovens estão presentes em momentos importantes, como: José do Egito (cf. Gn 37- 50). Vendido como escravo, aos 16 anos, pelos próprios irmãos, se tornou um grande líder no Egito. Samuel (cf. 1Sm1-16). Quando jovem auxiliou um sacerdote idoso, vindo a substituí-lo. Ele ungiu dois reis: Saul e Davi. Maria (cf. Lc 1,26-38), ainda jovem foi convidada para ser a mãe do Messias Salvador. Timóteo (cf. 1Tm 3,6), foi designado para ser sinal do amor de Deus nas comunidades, como sacerdote. Paulo chegou a pedir: “Ninguém te despreze por seres jovem” (1Tm 4,12).
Nos documentos do Concílio Vaticano II, a Igreja abriu suas portas para os jovens, convidando-os a um maior envolvimento na vida eclesial. Merece destaque as palavras do Papa Paulo VI na mensagem final do Concílio, à juventude: “Vos exortamos a alargar os vossos corações a todo o mundo, a escutar o apelo dos vossos irmãos e a pôr corajosamente ao seu serviço as vossas energias juvenis”.
O Documento de Puebla (1979), afirmou a opção preferencial pelos jovens. O Sínodo dos Bispos sobre a Juventude (2018), reafirmou, com o tema: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional” apresentando os desafios e as oportunidades do jovem na realidade atual, e propôs às Igrejas particulares a elaboração de projetos específicos para a inclusão, escuta e acompanhamento dos jovens. Alguns meses depois do Sínodo, o Papa Francisco convidou os jovens a assumirem seu protagonismo eclesial e social através da Exortação Apostólica “Christus Vivit” assegurando que o jovem é o “hoje” da Igreja e que “Jesus é jovem entre os jovens, para ser o exemplo dos jovens e consagrá-los ao Senhor”.
No Brasil, há mais de uma década, a CNBB criou a Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude buscando integrar os diferentes grupos eclesiais e expressões juvenis, oferecendo acompanhamento e formação para a sua atuação na Igreja e no espaço social. Várias iniciativas têm sido criadas, nas comunidades eclesiais, como forma de valorização dos jovens, fortalecendo seu papel único e insubstituível, num mundo que relativa valores, pessoas e a Casa Comum.
Um espaço de missão que a Igreja tem incentivado a participação da juventude é o ambiente digital, onde a maioria dos jovens já estão presentes. Entretanto é preciso “estar” como cristãos, como missionários, construindo pontes. Nesse sentido, o Papa Leão XIV ao se referir às redes sociais e a IA expressou: “Que ajude os jovens a integrar a verdade em sua vida moral e espiritual, preparando-os para decisões maduras e a construir um mundo de maior solidariedade e unidade”.
Na Diocese de Guarapuava temos o setor juventude bem organizado, embora sempre precisando melhorar. Assessorado pelo Pe. Felipe Madureira, em cada Decanato temos um padre referencial e coordenadores jovens, formando assim a equipe diocesana. Eventos, ao longo do ano, tem sido programados em sintonia com as Diretrizes Pastorais da Diocese e propostas da Comissão Episcopal para a Juventude da CNBB.
Em nossa Diocese, temos encontrado centenas de jovens inseridos e comprometidos: nos grupos paroquiais, nos Acampamentos, como catequistas, acólitos, na liturgia, na Pascom, na catequese crismal e em vários movimentos: MEJ, RCC, Cursilho, Focolare e grupos que expressam o carisma das Congregações religiosas. Temos visto um número significativo de jovens nas Santas Missas, nas Celebrações da Palavra e em vários eventos paroquiais e diocesanos… Todavia, há uma multidão juvenil fora do ambiente eclesial e muitos imersos em realidades ilusórias e preocupantes, como: drogas, vícios, consumismo, prostituição, violência, etc. É preciso continuar oportunizando espaços de acolhida, escuta e acompanhamento, dentro e fora das nossas Igrejas, para os nossos jovens.
Igreja e juventude se conjugam! “Porque o coração da Igreja é jovem, uma vez que o Evangelho é como uma linfa vital que a regenera continuamente” (Papa Francisco). Assim, acolhamos sem medo e sem julgamentos, os corações juvenis que pulsam forte e tem oferecido além dos sonhos, abertura ao serviço comunitário e social, na construção de um mundo novo.