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Prisioneiros da morte, libertados por Cristo

Artigo de dom Amilton Manoel da Silva, CP, bispo da diocese de Guarapuava (PR).

Iniciamos o mês de abril falando de morte e proclamando a beleza da vida. Aprisionados na morte, pela nossa condição de seres mortais e pecadores, somos libertados por Jesus Cristo que venceu a morte e o pecado e nos “recolocou” na dignidade que jamais deveríamos ter perdido: a vida eterna.

A semana santa nos insere no mistério mais profundo da fé cristã e, ao mesmo tempo, nos compromete com tudo o que celebramos. Desde a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, passando pelo mandamento novo, a Instituição da Eucaristia, a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, somos impulsionados a nos unir aos sofrimentos de Cristo, comungar com seus sofrimentos, nos assemelhar a Ele na sua morte, para conhecer e experimentar o poder da sua Ressurreição (cf. Fl 3,10-12).


Todavia, nem sempre damos sentido às nossas dores, unindo-as aos sofrimentos de Cristo. A grande tentação é permanecermos na sombra da morte, perdurando nos erros, descentrados do essencial, porque exige menos esforços e sacrifícios. Neste aprisionamento, é típico o papel de vítimas, esperando por mudança de terceiros, quando a razão de muitos problemas está dentro de nós e na falta de consciência de que foi para a vida, “para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1).

Libertação é um tema vasto na Sagrada Escritura: do pecado, das trevas, do cativeiro, da opressão… Não há quem não precise ser liberto em alguma área. Libertação é a ação sobrenatural de Deus em situações sem saída humana. É confiar que não estamos sozinhos, com a certeza de que Deus sempre ouve o nosso clamor e se importa conosco.

O profeta Isaías anunciou um Messias libertador, que pregaria a Boa Nova aos pobres, restauraria os contritos de coração, proclamaria a liberdade aos cativos e a consolação aos tristes (Is 61,1-3). Na Sinagoga, lendo a profecia de Isaías, Jesus proclamou que o cumprimento se deu na sua pessoa (cf. Lc 4,16-19), cuja missão nesta terra era trazer a vida em abundância para todos (cf. Jo 10,10).

Existe uma expressiva diferença entre libertação e liberdade. Afirmar que fomos libertos ainda não quer dizer que somos livres. A libertação foi realizada por Cristo, com sua morte de cruz; trata-se de uma ação divina que veio em nosso socorro e nos arrancou da situação de escravidão que nos encontrávamos. Liberdade é sentir-se livre, não mais preso de situações das quais Cristo já nos libertou. O primeiro é o ato salvífico realizado por Deus, o segundo é o agir que depende da decisão humana.

Um fato que nos ajuda a compreender essa diferença é o capítulo 3 do livro do Êxodo. Deus libertou o povo de Israel, através de Moisés, da escravidão do Egito. No deserto, esse povo, a cada dificuldade preferia voltar à escravidão, revelando que ainda estavam presos à antiga vida, necessitando de uma libertação interior (coração e mente). Dessa forma, não basta saber-se livre, é preciso saber lidar com as responsabilidades que a liberdade impõe, porque ninguém é livre fazendo tudo o que deseja, mas segundo a condição que se encontra, e as opções feitas, pois como afirma o apóstolo: “tudo posso, mas nem tudo me convém” (1Cor 6,12).

Viver livres, na liberdade que Cristo nos proporcionou, fugindo do pecado e buscando uma existência santa, não é fácil. As ofertas do mundo são inúmeras e os desejos da carne são insaciáveis. Por isso Jesus recomendou a oração e a vigilância, para perseverarmos na graça, tendo presente em nós o efeito libertador do Batismo, uma vez que, tendo passado pela morte de Cristo, já ressuscitamos com Ele para uma vida nova (cf. Rm 6,4).

O tempo pascal, que viveremos até Pentecostes, é uma grande oportunidade para vivenciarmos a liberdade de Cristo em nós e agirmos da forma, que ajudemos nossos irmãos e irmãs a viverem ressuscitados e não escravos das seduções terrenas. Sobre isso nos adverte o Papa Francisco: “a mundanidade, é a sedução, que toma posse dos nossos comportamentos, dos nossos valores e aí passamos do serviço a Deus para ao serviço do mundo. A mundanidade só se destrói diante da cruz do Senhor; esta é precisamente a finalidade do crucifixo diante de nós. É o que nos salva destas seduções que nos levam a idolatria, a vivermos em situação de morte”.

Com alegria, coloquemos em prática a recomendação do apóstolo: “Esqueço-me do que fica para trás e avanço para o que está na frente” (Fl 3,13). Olhando para a sua história, o que tem te aprisionado à morte que é preciso deixar para trás? Olhando para frente, o que a fé tem te levado a experimentar, enquanto caminhos que se abrem, cuja meta é a eternidade?

Libertados por Cristo no Batismo, sejamos testemunhas dessa libertação!

Feliz e Santa Páscoa!
Bom tempo pascal!

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