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O pão nosso de cada dia nos dai hoje

Por dom Amilton Manoel da Silva, CP.

No evangelho de Mateus, Jesus ensina aos fariseus a oração do Pai nosso, uma vez que não rezavam bem (cf. Mt 6,9-13). Em Lucas, Jesus ensina a oração do Pai nosso aos seus discípulos, pois ainda não sabem rezar (cf. Lc 11,1-4). A segunda parte da oração se inicia com o pedido: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”, implicando um propósito do discípulo de pedir dia após dia o pão necessário e, assim, confiar-se à providência divina.

Nos Evangelhos de Mateus e de Marcos, Jesus pede aos discípulos que resolvam a situação da falta de pão, para uma multidão faminta que está à sua volta: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16; Mc 6,37). Este mandato de Jesus mostra a responsabilidade dos discípulos de ontem e de hoje, de buscarem soluções para a erradicação da fome, uma vez que a necessidade é humana e aqueles que o seguem tem o dever, por primeiro, de serem solidários com os que passam fome (cf. Jo 13,15).

O período quaresmal é propício para tomarmos consciência das várias fomes que temos, bem como dos pães que precisamos pedir e daqueles que devemos aprender a multiplicar. O ser humano tem fome de Deus; fome de ser compreendido e amado; fome de paz, de fraternidade, de justiça… mas também tem fome de alimentos. Embora “não só de pão vive o homem” (cf. Mt 4,4), sem pão na mesa adoeceremos e morreremos. Infelizmente, o triste cenário da fome está exposto em todas as partes do planeta e no Brasil não tem sido diferente.

A Quaresma teve início no século IV com o objetivo de ajudar os catecúmenos (pessoas que ainda não tinham recebido o batismo, eucaristia e crisma) a se prepararem para receber os sacramentos da iniciação à vida cristã, no sábado santo e durante o tempo pascal. O tripé, oração, jejum e caridade, foi escolhido como metodologia de conversão (a Deus, a mim mesmo e ao próximo) e até hoje tem ajudado os cristãos a qualificarem a sua vivência cristã. No ano de 1964 tiveram início as Campanhas da Fraternidade, como iniciativa dos Bispos do Brasil, em pleno Concílio Vaticano II, na conjugação fé e vida, somando na caminhada quaresmal. Este ano o tema é: Fraternidade e Fome.

Mas, qual o pão que a providência divina quer nos dar, que é preciso pedir? E qual é o pão que os famintos necessitam que é preciso repartir? Adentremos esse pedido do Pai Nosso: “O Pai nosso de que cada dia nos dai hoje” e, creio, teremos muitas luzes.

A palavra pão possui um significado muito profundo, é o símbolo do alimento humano. O pão é “pão da vida” (cf. Jo 6,35). Porém, a vida humana é mais do que pão, embora em nenhum momento se possa dispensar o pão. A necessidade do pão é individual, mas sua satisfação, no entanto, é comunitária. Por isso não se reza o “pão meu”, mas o “pão nosso”. No gesto de comer o pão, o ser humano não apenas sacia a fome, mas gera um rito de comunhão.

É Deus quem dá de comer: terra, semente, sol, chuva… o alimento é algo divino. Ao ser humano cabe agradecer. Em cada pedaço de pão há mais uma presença da mão de Deus do que da mão do homem. Nesse sentido tem razão pedir o pão de cada dia.

Esta súplica nos remete também aos milhões de esfomeados que vasculham os lixos em busca de comida, os milhares que morrem de fome todos os dias por falta de partilha e por acúmulo de alguns. São Basílio Magno (+ 379) dizia: “Ao faminto pertence o pão que se estraga em tua casa. Ao descalço pertence o sapato que cria bolor debaixo de tua cama. Ao nu pertencem as vestes que ficam em teus armários. Ao miserável pertence o dinheiro que desvaloriza em teus cofres!”.

O pão cotidiano também é Cristo, pão descido do céu, palavra que alimenta a humanidade. É o pão eucarístico nos altares que alimenta as multidões famintas em cada Missa. É a prefiguração do banquete escatológico, onde os ricos ficarão de mãos vazias (cf. Lc 1,53) e os famintos serão saciados (cf. Mt 5,6).

Porque há um único pão, nós, embora muitos, somos um único corpo, pois todos participamos desse único pão” (1Cor 10,17), imploremos ao Pai o pão cotidiano, confiantes na sua providência, mas também façamos a nossa parte, nos solidarizando e partilhando o pão com os que, por uma razão ou outra, falta-lhes em suas mesas.

Páscoa é fartura de pão para todos!

Bom tempo quaresmal!

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