Pesquisar

Missionário guarapuavano conta um pouco de sua experiência em Guiné-Bissau, na África

Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,16-20).

No dia 2 de março de 2023 o missionário guarapuavano Wesley Matos Fonseca completou quatro meses de trabalhos missionários na cidade de Quebo, diocese de Bafatá, em Guiné-Bissau, na África. É apenas o começo de uma caminhada de 2 anos.

Wesley é voluntário da Missão Católica São Paulo VI, que a Igreja Católica do Paraná mantém naquele país há cerca de 9 anos. Com a ajuda dos fiéis, o Regional Sul 2 da CNBB provê ajuda constante para mistigar as várias necessidades e carências da população guineense.

Clique aqui para acessar o site da Missão São Paulo VI e conhecer os trabalhos.

Antes de embarcar para Guiné-Bissau, Wesley visitou as paróquias de Guarapuava para se apresentar e divulgar o trabalho missionário que realizaria, sendo sempre recebido com muito entusiasmo e curiosidade. Passados quatro meses, a diocese de Guarapuava enviou algumas perguntas para ajudar a entender um pouco melhor como está sendo a experiência de Wesley na África:

Diocese de Guarapuava: Passados quatro meses na Missão, a pergunta que está na ponta da língua de seus amigos, familiares e irmãos na fé que estão aqui no Brasil é sobre a sua adaptação na nova realidade. Está gostando? Foi bem recebido pelo povo guineense?

Wesley: A adaptação foi difícil no começo, por causa da língua, e como eles falam e se expressem. É um pouco difícil estar no meio deles e não entender o que eles estão conversando e o que precisam. Foi a maior dificuldade que encontrei, mas eles são um povo muito acolhedor. É muito bonita a forma como eles nos tratam e como eles gostam de estar entre nós, missionários. Fui muito bem acolhido por todos, tanto pela comunidade (Quebo) como em outras missões. Quanto ao calor, a gente vai se acostumando.

DG: A Missão São Paulo VI está vislumbrando seu aniversário de 10 anos. Com base em sua convivência com as pessoas atendidas pelo projeto, você diria que nesse tempo os trabalhos proporcionaram uma mudança real e perceptível no aspecto social?

Wesley: Sim, com certeza. No tempo em que a Missão esteve aqui já trouxe um renovo para este lugar, para a cidade, para o bairro Monsanto, que significa Monte Santo. Trouxe mudanças na questão social. Aqui, praticamente toda a população é muçulmana, então tem que haver um respeito, e esse respeito já trouxe diferenças porque eles entendem que nós viemos aqui para ajudar, e eles acabam nos ajudando também. A escola e a catequese também fizeram uma diferença muito grande.

DG: Guiné-Bissau é um país com grande pluralidade religiosa. O Islamismo é praticado por quase metade da população, seguido das crenças tradicionais africanas (30%) e do cristianismo (19%). Falar de Deus, em nome da Igreja Católica, nesse contexto é um desafio difícil?

Wesley: É um desafio, mas também é bonito, porque eles se questionam, e através disso a gente consegue fazer a evangelização chegar. Eles perguntam “mas você, do Brasil, país maior, de uma realidade com mais dinheiro, largou o que você tinha e veio pra cá. Por que?”. Isso nos dá a oportunidade de falar do nosso Deus, de falar daquilo que acreditamos. Temos sempre a facilidade de conversar com eles porque são muito abertos. Graças a Deus foi se perdendo aquela imposição religiosa, que a “nossa é melhor que a de vocês”. Falar de Deus aqui é na base da conquista, no dia-a-dia, com suas atitudes, mostrar que viemos para ajudar porque tem um Deus que ama muito a todos nós, todas as religiões. A ajuda que damos nos hospitais e em outras situações faz a diferença e faz também com que eles olhem para nós de um jeito diferente.

DG: Aqui no Paraná existem pessoas que vivem em locais isolados, onde o atendimento religioso, em especial a catequese, se mostra um desafio. Como funciona e quais são as peculiaridades do ensino religioso na Missão?

Wesley: Existem locais distantes que chamamos de tabancas. São aldeias, onde há uma grande concentração de guineenses. Existem muitos grupos, que chamamos etnias, que tem suas próprias tabancas separadas. É uma realidade bem difícil, quando se pensa em evangelizar, principalmente por causa da língua. Aqui tem a língua universal, o crioulo, que saiu da união de todas as línguas de cada etnia. Já nas tabancas, cada uma tem uma língua diferente, onde não se fala o crioulo, principalmente porque as pessoas estão isoladas em locais distantes, não estudaram ou são idosos. Como falar de Deus se eles não entendem? Isso dificulta bastante, porque precisamos encontrar alguém que saiba aquela determinada língua ou se comunicar por gestos. Recebemos muita ajuda dos jovens, que sabem as línguas de outras etnias e vão, nos ajudam, levam os tambores, cantam, tocam, e isso tem facilitado o sentido da Missão na parte evangelização.

DG: O preparo que a CNBB oferece aos missionários leva em conta as particularidades da cultura e do povo atendido. Apesar da formação recebida, você se deparou com alguma situação que te “tirou dos trilhos” e te fez repensar a sua escolha?

Wesley: Tivemos a nossa formação lá na CNBB, muita rica e com experiências de antigos missionários que já estiveram aqui, mas realmente há situações que nos tiram dos trilhos. Vou contar algo que aconteceu na minha segunda semana aqui. Uma mãe, da etnia “Fula”, uma etnia muçulmana, apareceu com uma criança com um ano e pesando 4 quilos, praticamente morta nos braços. Ela queria que fizéssemos alguma coisa, que ajudássemos. Naquele momento, não tinha muito o que poderíamos fazer, e aquilo acabou me deixando sem chão. Que atitude eu deveria tomar? A mãe não me entendia, nem em crioulo e nem em português. Veio uma tia junto, com quem nos comunicávamos. Acabou que pegamos a criança, eu e a irmã Fátima (Maria de Fátima da Costa), colocamos no carro e levamos para outra cidade (Bissau), quase cinco horas de viagem, onde poderia ter um atendimento correto, para desnutridos. Por que isso aconteceu? Eles têm algumas crenças que para nós não são boas. Eles acreditam que a mãe, quando nasce um filho, tem que dar o leite materno primeiro para as formigas. Se as formigas rejeitarem o leite, então a mãe não pode amamentar a criança. Isso é uma crença tradicional deles, então a criança ficou sem comer, perdeu o leite materno que é o principal alimento quando se está pequeno. Eles fazem também seus rituais tradicionais e, nos últimos casos, eles recorrem à “medicina do branco”. A criança ficou um bom tempo em recuperação, mas perdemos o contato da tia da criança. Ela estava reagindo bem ao tratamento, então acreditamos que sobreviveu.

DG: O seu trabalho em Guiné-Bissau é voluntário. Se alguma pessoa de Guarapuava ou de outra cidade sentir a necessidade de ajudar financeiramente, quais são as orientações?

Wesley: Existem diversas formas de ajudar os missionários. Uma das formas é entrar no site da CNBB (www.cnbbs2.org.br), e lá tem o PIX pelo qual dá para ajudar a Missão. Tudo que que for doado lá será destinado para nós aqui, em Quebo. Se quiser ajudar um missionário particular, dá também. Eu tenho um grupo de amigos que me ajudam mensalmente. Também podem seguir as minhas redes sociais e por lá poderemos nos comunicar.

Acompanhe Wesley pelas redes sociais:

Instagram: www.instagram.com/wesley_fonsecaaa

Facebook: www.facebook.com/wesleymatosfonseca

No dia 29 de outubro de 2022 foi realizada a Missa de Envio de Wesley na Catedral Nossa Senhora de Belém, em Guarapuava.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Últimas Notícias

plugins premium WordPress