Artigo do frei Margon Maykon Milleo, FMM, pároco da paróquia Nossa Senhora de Rosário, de Rosário do Ivaí (PR)
O tempo da quaresma nos faz um importante convite, o de iniciar uma caminhada com Cristo, durante quarenta dias rumo à Páscoa. Essa caminhada traz consigo uma proposta, um sentido e também uma exigência, que é a conversão e a adesão incondicional ao Evangelho. Portanto, podemos afirmar que a espiritualidade quaresmal tem como palavra chave a conversão, a mudança de mentalidade do cristão, que novamente toma consciência do seu Batismo, pois quaresma contempla toda uma preparação e liturgia batismal que vai culminar no grande Tríduo Pascal, coração do ano litúrgico.
A Palavra de Deus na liturgia dos dias da quaresma nos indica alguns compromissos importantes: O JEJUM, A ORAÇÃO E A CARIDADE, os três são baseados em um pensamento ascético, ou seja, uma atitude de mortificação (disciplinar em mim algo que não está bom e no qual preciso ainda crescer mais). Então para aprofundar bem nossa espiritualidade da quaresma, iremos meditar, cada um dos aspectos.
O jejum é uma maneira de trabalhar a própria vontade e as paixões da alma, não é um mero ato de passar necessidade ou falta de alimento ou de alguma outra coisa, mas é um esforço de poder centralizar a vida Naquele que deve ser o nosso alimento por excelência, Deus. O próprio Cristo jejuou os quarenta dias no deserto, preparando-se para exercer sua vida pública e missão, e falou a respeito do verdadeiro alimento: “o meu alimento é fazer a vontade do Pai” (Jo 4, 34).
A prática da caridade não deve ser exercida somente nas grandes ocasiões ou apenas em tempos litúrgicos determinados, mas precisa permear toda a nossa vida cristã, pois o mandamento do amor fraterno, além de guiar todo este período de reflexão, culminará na Quinta-feira Santa, em que o Senhor, no lava pés, dá aos seus o mandamento novo do amor que vai até as ultimas conseqüências, o que não foi apenas um discurso, mas logo mais se concretizou no alto do Calvário, realmente amando e fazendo pelo ser humano o mais alto ato de caridade: dar a própria vida para remissão dos nossos pecados.
A vivência da oração, o terceiro tópico que nos chama atenção para bem vivenciar a quaresma: Jesus Cristo ensina que a verdadeira oração deve ser vivida com retidão de intenção, em intimidade com Deus. Uma piedade assim vivida, supõe um exercício da fé que Deus nos vê. O cristão segue o exemplo do próprio Jesus que, conforme o Evangelho, muitas vezes se retirava sozinho para orar (Mt 14,23; Mc 1, 35, Lc 5, 16); Os Apóstolos seguiram o exemplo do Mestre. Um rápido exemplo é Pedro, que sobe ao terraço da casa em que estava em Jope para se retirar e orar a sós, e ali recebe uma revelação (At 10, 9-16). A vida de oração precisa fundamentar-se, além disso, em pequenos espaços de tempo, dedicados exclusivamente a estar com Deus. São momentos de colóquio, as vezes com palavras, mas em alguns momentos apenas o fato de estar na presença do Senhor já é rezar.
O período do deserto, da contemplação da Paixão, morte e ressurreição de Cristo, com certeza terá um sentido mais profundo se tivermos como projeto o jejum, a caridade e a oração, pois não estaremos apenas meditando a vida do Senhor, mas mergulhados na intimidade do seu mistério de salvação.
PAZ E BEM!