Entrevista com padre Valdecir Badzinski – Representante da Igreja do Paraná na Comissão Nacional do Sínodo dos Bispos

Por CNBB – Regional Sul 2

Acontece em Brasília, desde segunda-feira, 6 de março, até sexta-feira, dia 10, a Assembleia do Sínodo Cone Sul. Essa é a quarta Assembleia por região da Igreja Latino-Americana e do Caribe, e reúne os países do Brasil, Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai. São quase 200 participantes vindos das 5 Conferências Episcopais.

Padre Valdecir Badzinski.

Dentre esses participantes, está o secretário executivo do Regional Sul 2 da CNBB, padre Valdecir Badzinski, que é único paranaense a compor a Comissão Nacional do Sínodo dos Bispos. Desde o início do processo sinodal, padre Valdecir vem trabalhando com mais 14 pessoas de várias partes do Brasil, que tem a missão de articular, refletir, organizar e elaborar sínteses referentes ao Sínodo.  

Na entrevista a seguir, ele fala sobre a importante missão de compor essa comissão nacional do Sínodo, da participação da Assembleia do Cone Sul e dos próximos passos do processo sinodal.  

1. Como está sendo o trabalho na Comissão Nacional do Sínodo dos Bispos?  

Somos 15 membros nessa comissão, oriundos de várias partes do Brasil, representantes do Povo de Deus, dos Organismos, das Pastorais e dos Movimentos da CNBB. Os trabalhos mais incisivos, mais árduos, aconteceram antes, nos preparativos da Assembleia do Cone Sul. Foi um trabalho de escuta, de elaboração de síntese e, depois, de preparação da logística para o encontro. Agora, estamos desenvolvendo, junto com os outros quatro países do Cone Sul (Argentina, Chile Uruguai e Paraguai), os trabalhos administrativos da Assembleia que está acontecendo nesses dias. 

2. Quais foram os desafios e aprendizados na primeira fase do Sínodo?  

A primeira fase do Sínodo aconteceu nas Igrejas particulares. O Brasil tem 275 circunscrições eclesiásticas e nós recebemos a síntese diocesana de quase todas elas. O nosso grande desafio foi tomar nas mãos essas sínteses e transformar numa única síntese para enviar ao Conselho Episcopal da América Latina e Caribe (Celam). Do Brasil, recebemos em torno de 2.700 páginas e sintetizamos em 22 páginas para o Celam. Cada síntese trazia o rosto de uma diocese, de um povo, de uma cultura, de uma realidade eclesial. Imprimir esse, que foi como um raio-x da Igreja do Brasil, foi o nosso grande e maior desafio, que também foi belíssimo, por ver a participação de leigas e leigas no processo sinodal.  

3. Como você avalia o processo sinodal até aqui? 

Até o momento, temos muitas coisas belas a serem partilhadas. Entre elas, está o envolvimento de lideranças, dos fiéis, dos consagrados nesse processo sinodal, o que o Papa nos pede. Um envolvimento que parte da vida pessoal, eclesial e do desejo de uma Igreja para o amanhã. Essa participação enriquece o processo sinodal.  

O Sínodo, segundo o Papa Francisco, é um caminhar juntos. Na origem grega da palavra já está essa definição. O Papa nos pede para caminharmos com todos e é um pouco mais ousado: caminhar também com os não batizados. Por isso, o processo sinodal até aqui nos traz uma alegria muito grande ao perceber que a comunidade está envolvida neste processo.  

4. Nesse processo sinodal, o que significa essa Assembleia do Cone Sul?  

A Assembleia do Cone Sul é uma organização dentro da América Latina e do Caribe. A primeira assembleia aconteceu com os países do Centro América, a segunda com os países do Caribe, a terceira com os países bolivarianos, e nessa quarta, então, é com os países do Cone Sul. Após essas quatro Assembleias, serão unificadas as sínteses de cada uma delas para formar a síntese da Conferência Latino Americana, que será apresentada ao Papa Francisco, em outubro de 2023. Esse trabalho da Assembleia do Cone Sul faz parte de um processo organizacional da Igreja da América Latina e do Caribe.

5. O que significa para você, como membro da Igreja do Paraná, participar da Comissão Nacional de animação para o Sínodo?  

A Igreja nos oferece oportunidades e eu chamo essa oportunidade de um privilégio. Representar a Igreja do Paraná na equipe nacional do Sínodo, além de também representar parte do secretariado executivo da CNBB, é um privilégio. Aprendemos que a disposição do fazer sempre gera um crescer na Igreja, no ministério, na visão do horizonte da Igreja, no exercício pastoral, enfim, é um crescer pleno. Por isso, sinto-me privilegiado por estar nessa equipe, um tendo o privilégio, acima de tudo, de estar a serviço da Igreja.  

6. Quais frutos já podem ser visualizados desse processo sinodal, tanto na Igreja do Brasil, quanto no Paraná?  

Os frutos gerados no processo sinodal são diversos, diria até infinitos. Nós sabemos, a Igreja permite, o exercício do chamado sensus fidei (senso dos fiéis), que é a capacidade de discernimento ou ainda, carisma imediato do Espírito. O Sínodo abre a possibilidade de os fiéis participarem da avaliação do que é a Igreja e dos seus rumos, do seu futuro. Outro fruto que a gente percebe, tanto na Igreja do Brasil, quanto no Paraná, é a mudança de mentalidade, de uma Igreja hierárquica para uma Igreja que caminha junto, uma Igreja sinodal. O processo sinodal ensina esse caminho. Por isso, o Sínodo traz o tema: comunhão, participação e missão. A Igreja é dos batizados, são os batizados que formam a Igreja e conduzem todo o ser Igreja. Os consagrados estão à serviço da Igreja. O processo sinodal evidencia a vocação do batizado para um modo de ser igreja, a igreja totalmente sinodal. 

7. Qual serão os próximos passos do Sínodo dos Bispos? 

O Sínodo dos Bispos tem data cronológica para encerrar, porém o tempo dele é eclesiológico. Esse tempo eclesiológico é o tempo da aplicabilidade. Todos os passos que foram dados, o que foi aprendido, o que foi conquistado vai sendo aplicado na vida pastoral da Igreja, no cotidiano, nas assembleias, nas reuniões, nos conselhos, nas pastorais, nos movimentos, nas celebrações. Então, o Sínodo tem um valor eclesiológico, por isso vai permanecer vivo na caminhada futura da Igreja.  

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