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Descanse em paz!

Artigo de dom Amilton Manoel da Silva, CP

O mês de novembro tem um significado especial para os cristãos, sobretudo para os católicos. A lembrança dos entes queridos falecidos, a esperança da ressurreição e da vida eterna e a devoção às almas do purgatório leva-nos a pensar ainda mais sobre a brevidade da vida terrena e a seriedade com que devemos encará-la, uma vez que nos prepara para o encontro definitivo com Deus.

Tenho refletido ultimamente nas palavras “Descanse em paz!”. Uma expressão gravada em muitas pedras dos jazigos dos cemitérios e bastante usada nas redes sociais quando alguém comunica a morte de uma pessoa. Mas, qual o significado deste desejo?

A origem da sigla é do latim e significa “Requiescat in pace”, em português: “Descanse em paz”. Outro termo bastante usado é RIP ou R.I.P. originado no latim, de uso comum nos países de língua inglesa. Em inglês, a sigla acaba sendo a mesma já que “Descanse em paz” é “Rest in peace”. Nas catacumbas romanas de cristãos primitivos a frase encontrada foi “Dormit in pace” (em português “Ele (a) dorme em paz”), indicando que eles (as) morreram na paz da Igreja, isto é, unidos a Cristo.

Vários versículos bíblicos inspiram essa expressão, como: Is 40,29; 57,2; Ap 14,13 e outros. O próprio Jesus convida os combalidos a descansarem em seu Coração: “Vinde a mim vós todos que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28); e Ele mesmo levou os seus discípulos para o descanso depois da missão (cf. Mc 6,31). No cansaço, gerado pelas inquietações, o apóstolo Pedro recomenda confiar em Deus e abandonar tudo em suas mãos (cf. 1Pd 5,7). Assim, concluímos que, manter-se no esgotamento físico ou psíquico é, para o cristão, uma opção pessoal, pois temos o remédio para a cura: Deus.

Descansar não é sinônimo de preguiça, mas de recuperação das forças. Descansar é deixar as coisas que não podemos controlar aos cuidados de Deus, rejeitando a preocupação desnecessária. Descansar é ter fé que Deus vai nos ajudar em todas as situações, mesmo que não peçamos. Nosso corpo descansa quando dormimos e nossa alma descansa quando nos entregamos ao Senhor. Descanso é também sinônimo de férias, repouso, lazer, descontração… e todos nós necessitamos. Afinal, diz um ditado popular: “Devagar com o andor que o santo é de barro!”.

Dessa forma, não é preciso chegar o dia da nossa morte para finalmente alcançarmos o tão desejado descanso e a tão sonhada paz. A promessa do Mestre se cumpre no dia a dia das nossas vidas, mesmo quando ocupados na prática do bem, na promoção da vida, no serviço em prol da construção do Reino… “Deixo-vos a paz, minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se atemorize” (Jo 14,27). Esta promessa fundamenta-se Nele, que é a “Rocha firme”, sobre a qual devemos construir o nosso presente e o nosso futuro.

Interpreto a expressão “Descanse em paz!”, como demonstração de empatia para com os familiares e consolação à luz da fé, em relação à pessoa que partiu. Como que afirmando: Os problemas acabaram, a luta cessou, a doença deixou de provocar sofrimento e nada neste mundo é capaz de causar dor ou aflição. O próprio cemitério, onde seus restos mortais serão deixados é lugar de sossego, de silêncio e de paz.

Este anseio também expressa o que cremos através das Sagradas Escrituras, no que diz respeito a natureza onerosa tanto do descanso como da paz. Foi Jesus Cristo, com seu sangue derramado na cruz (cf. 1Cor 6,20; 1Pd 1,19) que adquiriu para nós o descanso escatológico e a paz (cf. Cl 1,20); significando que essa benevolência que desfrutaremos é mérito exclusivo da sua Pessoa e da sua morte expiatória.
Mas, e para os que foram infiéis, convém desejar descanso e paz, uma vez que alguns textos bíblicos (Is 48,22; 57,21 e Dn 12,2) e o próprio Jesus (Jo 5,28-29) afirmam que não serão beneficiados? Não conhecemos a ação salvífica de Deus nos seus filhos e filhas nos momentos finais de suas vidas. Para Aquele que não quer a morte do pecador, mas que se converta e vida (cf. Ez 18,23) e cuja misericórdia é infinita (cf. Sl 117; 136), não é possível saber ou calcular o “alcance” da sua graça. Cabe a nós, rezar por aqueles que partiram, oferecendo também sacrifícios, especialmente a Santa Missa (cf. 2Mc 12,42-45), e deixar que o Deus dos vivos (cf. Mt 22,32; Lc 20,38) e, somente Ele, complete a obra que um dia iniciou (cf. Sl 138,8).

Descanse em paz! Tudo nesse mundo cansa, porque nossas energias são limitadas e nossa autoconfiança é frágil frente aos desafios cotidianos. Descansar em paz, deve ser uma busca constante dos vivos, na certeza de que a nossa segurança e leveza se encontram unicamente em Deus. Que o Senhor nos conceda a graça de vivermos nessa busca, dom da sua bondade infinita, onde, por meio do seu Filho, nos dá como herança eterna o descanso e a paz.

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